Áurea Martins e Cristovão Bastos destilam amores e mágoas à meia-luz na atmosfera íntima do álbum ‘Amizade’

Áurea Martins e Cristovão Bastos lançam o álbum 'Amizade' na próxima sexta-feira, 14 de novembro Tyno Cruz / Divulgação ♫ OPINIÃO SOBRE ÁLBUM Título...

Áurea Martins e Cristovão Bastos destilam amores e mágoas à meia-luz na atmosfera íntima do álbum ‘Amizade’
Áurea Martins e Cristovão Bastos destilam amores e mágoas à meia-luz na atmosfera íntima do álbum ‘Amizade’ (Foto: Reprodução)

Áurea Martins e Cristovão Bastos lançam o álbum 'Amizade' na próxima sexta-feira, 14 de novembro Tyno Cruz / Divulgação ♫ OPINIÃO SOBRE ÁLBUM Título: Amizade Artistas: Áurea Martins e Cristovão Bastos Cotação: ★ ★ ★ ★ ♬ O lançamento do primeiro álbum da cantora Áurea Martins com o pianista Cristovão Bastos na próxima sexta-feira, 14 de novembro, encerra odisseia de sete anos. Afinal, o disco ora editado pelo selo Garapa foi anunciado em 2018, viabilizado em março de 2020 com recursos obtidos através de financiamento coletivo – em processo interrompido dias após o início das gravações por conta do isolamento social imposto pela pandemia de covid-19 – e enfim retomado neste ano de 2025, para satisfação de quem aderiu à campanha e esperava receber o disco. Entre março, abril e maio, a cantora e o pianista gravaram 10 músicas no estúdio Casa do Choro – Auditório Radamés Gnattali, no Rio de Janeiro (RJ), com direção musical e arranjos do próprio Cristovão Bastos. Amizade é disco que oferece o que se espera dele. Aos 85 anos, com a voz já maturada na longa estrada, Áurea Martins se afina com o piano de Cristovão Bastos em atmosfera tradicional. Em bom português, cantora e pianista se irmanam na ambiência atemporal do samba-canção, gênero dominante no repertório do álbum Amizade. Parceria de Bastos com Roberto Didio, Meus guardados (2025) é joia que reluz à meia-luz neste disco vocacionado para o tom interiorizado de músicas como o samba-canção Fale baixinho (Portinho e Heitor Carillo, 1959), pérola pescada no baú do cancioneiro brasileiro. A propósito, a seleção do repertório valoriza o álbum Amizade. Se há obras-primas já exauridas pelo uso comum, casos do samba-canção Todo o sentimento (Cristovão Bastos e Chico Buarque, 1987) e do choro Doce de coco (Jacob do Bandolim, 1951, com letra posterior de Hermínio Bello de Carvalho, 1968), há lembranças sagazes como a de Vem hoje (Moacyr Silva e Antônio Maria, 1960), samba-canção do repertório da cantora Elizeth Cardoso (1920 – 1990), madrinha artística de Áurea Martins. Do repertório de outra grande voz da era do rádio, Dalva de Oliveira (1917 – 1972), Áurea e Cristovão rebobinam o samba-canção Neste mesmo lugar (Klécius Caldas e Armando Cavalcanti, 1956) em gravação já apresentada em single editado em novembro de 2020. Naquela época, a valsa Amigo amado (Alaíde Costa e Vinicius de Moraes, 1973) e o samba Flor negra (Antonio Valente, Elton Medeiros e Cristovão Bastos) – composto em 1973 em homenagem a Pixinguinha (1897 – 1973), mas censurado e nunca registrado oficialmente em disco – estavam previstos no repertório do álbum Amizade. Na seleção final, ambos acabaram dando vez a novidades como Noite de lua (2025), samba-canção de Cristovão Bastos com Roque Ferreira que realça a atmosfera noturna em que o disco está ambientado. Filho de Cristovão Bastos, Miguel Rabello assina a produção musical do álbum Amizade com o letrista Roberto Didio. Juntos, Rabello e Didio também assinam Com você, terna canção adornada com a voz e o violão do próprio Rabello. Cantora tarimbada na noite carioca, Áurea Martins está quase sempre à vontade no disco porque sabe depurar as melancolias e melodramas de temas como Outra vez, nunca mais (Sueli Costa e Abel Silva, 2003). Áurea fala a língua do samba-canção. Fora da atmosfera e do tom íntimos do álbum Amizade, Voz do samba (Cristovão Bastos e Roberto Didio) é samba que enaltece o próprio samba em gravação de notas mais elevadas que junta os cantos de Áurea Martins (em esforço heroico na faixa) e de Gabriel Cavalcante, uma das vozes que se fazem ouvir na roda gregária do Samba do Trabalhador. Em que pese a beleza da música, Voz do samba quebra o clima de Amizade, álbum vocacionado para o escurinho das boates em que cantores, músicos e ouvintes destilam e refinam (des)amores e mágoas à meia-luz. Capa do álbum ‘Amizade’, de Áurea Martins e Cristovão Bastos Tyno Cruz

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